Lençol azul-clarinho (fragmentos de uma traíção)

domingo, 23 de maio de 2010 13:47 Postado por Emerson Silvetre
Chegaram à casa dele. Não havia ninguém. Os cachorros latiram para o rapaz porque não o conheciam. Ele olhou em volta antes de entrar na própria casa, verificou a hora e mostrou a escada para o rapaz que o acompanhou. Subiram.
Não havia tempo para cerimônias. Mal a porta do quarto se fechara nas suas costas, começaram a se despir. O namorado chegaria em uma hora e vinte e não poderia desconfiar de nada.
Sim, estava claro que amava o namorado. “Amor está aqui e aqui (apontava primeiro para o coração, depois para a cabeça), e não aqui (apontava o sexo)”. O rapaz era só de sexo. Ele se perguntava por que fazia aquilo, aquilo de trair o outro assim com esses rapazes, mas fingia que era natural e que aquilo não o perturbava tanto, mas o perturbava profundissimamente.
Meio que sem pensar, fazendo movimentos rápidos e decorados, começou a tirar a roupa com certa pressa, ao mesmo tempo em que tirava a roupa do rapaz. Completamente nus, se jogaram na cama-box, beijaram-se loucamente até perderem o fôlego, babaram de tanto tesão um pelo outro. As mãos ágeis de ambos percorriam os corpos, cada centímetro, cada buraco do corpo um do outro. Embolaram sobre o lençol azul-clarinho. O cheiro dele misturado ao suor do dia todo na rua. O cheiro do rapaz, de homem lavado. Na virilha, o cheiro dele intensificava-se, o rapaz percebeu isso quando inclinou a cabeça para engolir o seu sexo, encharcando-o abundantemente de saliva. Ele se excitava cada vez mais, o pau um ferro de tão duro. Afastou a cabeça do rapaz e mandou que ele virasse de costas. Com a própria língua, lubrificou o rabo dele, babando a bunda toda, segundos antes de penetrá-lo com força e pressa. Enfiou de uma só vez segurando o rapaz para que o encaixe fosse perfeito. O rapaz soltou um gemido profundo, misto de dor e prazer. Ele continuou enfiando cada vez mais rápido, estocada atrás de estocada. O suor escorria pela testa dele, caindo nas costas do rapaz. Um gemido mais intenso. Cabeça inclinada para trás. Olhos revirados. O corpo todo tremendo. Uma última estocada, a mais profunda e forte de todas. Jogou-se cansado e ofegante por cima do rapaz. Engoliu a própria saliva. Garganta seca.
Olhou a hora no celular em cima da mesinha do computador. Ainda tinha quarenta minutos. Levantou-se. Colocou a roupa. Ajudou o rapaz a colocar a dele. “Gostoso”, falou grosseiramente ao fechar o último botão de sua camisa. Tirou o lençol azul-clarinho da cama. Abriu a porta e as janelas para que o cheiro de sexo saísse. Desceu as escadas com o rapaz. Jogou o lençol no cesto de roupas sujas ao lado da máquina de lavar. O acompanhou até a porta. “Te ligo depois”.
Subiu as escadas novamente, colocou um outro lençol azul-clarinho limpo na cama. Foi tomar banho. Lavou-se bem. Esborrifou bom-ar no quarto todo. Ligou o computador. Deixou a Billie Holiday cantando. Deitou na cama. Olhou a hora: ainda tinha vinte minutos. Fechou os olhos cansados, até que a porta do quarto abriu. O namorado entrou. Ele o recebeu com o mesmo sorriso doce de sempre, como se nada fosse. E não foi.


Por Emerson Silvestre

6 Response to "Lençol azul-clarinho (fragmentos de uma traíção)"

  1. entrenos Says:

    Parece escrito para mim...mentira..
    auhuahuauahaa

    Ahazou!

  2. Emerson Silvetre Says:

    Mentira? Sei!

  3. Discutindo política sem cinismo Says:

    Gostei da oscilação de linguagem no momento-chave e da sutileza do título.

  4. Unknown Says:

    Adoreei!Emerson é massa!! :D

  5. Unknown Says:

    Este comentário foi removido pelo autor.
  6. Unknown Says:

    Não curti muito a modificação do "babar de tesão", mas no geral continua o mesmo texto que eu ja tinha lido. Muito bom.

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